Sobre lidar com decepções

Certa vez, quando eu era pequena, estava tendo dificuldade de dormir por causa de um incômodo no peito. Assustada, levantei e fui até o quarto dos meus pais contar que estava sentindo uma pressão logo abaixo do pescoço. Minha mãe me olhou do jeito que ela sempre me olha quando sabe que eu estou fazendo um drama desnecessário – o que, devo admitir, acontece com bastante frequência – e me disse: essa dorzinha chama angústia.

Mais cedo naquele dia, eu tive uma das grandes decepções da minha infância: meus pais não tinham autorizado que eu fizesse equitação. Eu era apaixonada por cavalos, mas lógico que criança não pensa na completa falta de praticidade que seria fazer aulas em um lugar bastante longe da minha casa e sendo que minha família não tinha uma fazenda ou um haras para eu poder praticar. Quando pequenos, a gente quer algo e pronto: cabe aos adultos cuidar da parte prática do negócio.

O fato é que eu guardo essa cena na memória porque, depois disso, sei que o incômodo no peito foi diminuindo até que eu consegui dormir, um novo dia começou e eu segui em frente. Tive que me contentar com o plano B: escolher um novo esporte, no caso, a ginástica olímpica, que eu acabei adorando. Minha infância não foi menos feliz porque eu não pude fazer equitação. Pelo contrário: isso me mostrou desde muito cedo que a vida não é sempre do jeito que eu quero. Um ensinamento que, confesso, estou tentando aprender até hoje.

Não é fácil lidar bem com decepções, independente da sua idade. Essa proeza de entender que frustrações acontecem o tempo todo e não significam o fim do mundo requer uma boa dose de maturidade e um histórico consolidado de experiências com planos B. Quem planeja demais e coloca muita expectativa sobre o plano A tem mais dificuldade – o que, infelizmente, sempre foi meu caso.

Há muitos anos que a vida tem me mostrado que ela tem seu próprio curso, que existem situações que simplesmente fogem do nosso controle e que, se você não souber dançar na chuva, paciência: ela vai continuar caindo do mesmo jeito. Mas eu ainda não escapei de sentir essa dorzinha que chega a ser física causada pelas coisas não terem acontecido do jeito que eu queria.  

Talvez eu nunca escape mesmo. Contudo, posso, sim, diminuir a quantidade de drama que vem junto com ela. Porque, quando criança, tudo bem você ir chorando até o quarto dos seus pais pedir colo. É normal. Mas, uma vez que você cresce, as decepções vão aumentando e a sua capacidade para lidar com elas tem que aumentar na mesma proporção, assim como a sua criatividade de fazer novos planos que, no final, muitas vezes vão se mostrar melhores do que os primeiros que foram frustrados.

Fica aí meu conselho para mim mesma e para você que também está aprendendo a curtir a chuva mesmo em dias que estava esperando ansiosamente pelo sol.

Ana Luísa de Oliveira

Jornalista, escritora e produtora de conteúdo freelancer. Busca inspirar as pessoas a se conectarem com o que é importante para elas.

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