Aquele conselho sobre aproveitar o caminho
No último ano da faculdade, encarei o temido desafio de quase todo universitário – que só aparece com nomes e formatos diferentes – chamado Trabalho de Conclusão de Curso, ou TCC. Nessa fase, o projeto que desenvolvi com um grupo de mais três colegas virou meu bebê: eu pensava nele o tempo todo, cuidava para que nada saísse errado, passava noites em claro me preocupando e embalando-o na minha mente, me sentia constantemente cansada e estressada por causa dele. Minha “maternidade” durou alguns meses e lembro de compartilhar diversas vezes com meus companheiros de jornada o quanto eu ansiava pelo final: queria apresentá-lo logo, soltá-lo no mundo e não ter mais essa responsabilidade.
O dia da apresentação chegou. Meu “filho” estava crescido e pronto, e foi muito bem recebido pela banca de avaliação e por todos que assistiram. Orgulhosa do resultado que havíamos criado com tanto carinho, eu e meu grupo estávamos finalmente livres para seguir nossas vidas mais aliviados – ou em direção aos próximos problemas.
O que eu não esperava, contudo, era uma certa “síndrome do ninho vazio” que veio me fazer uma visita alguns dias depois. Apesar de tranquila por ter finalizado o projeto, comecei a sentir uma certa falta desse que com certeza foi um processo conturbado, mas que, ao mesmo tempo, teve sua beleza. As entrevistas com pessoas que tinham lindas e inspiradoras histórias, a correria para dar tudo dar certo, as leituras intermináveis de livros e textos para terminar a monografia, os encontros com minha amiga na biblioteca da faculdade para escrevermos juntas… Sim, eu estava com saudade disso tudo. Focada nas partes ruins de fazer um TCC, eu às vezes deixei de valorizar as boas.
Esse é o problema de esperar demais pela próxima fase da nossa vida: a gente esquece que, com a mudança, não são apenas os pesares que vão embora, mas também os prazeres. Queremos nos ver livres do que nos machuca agora, contudo, na etapa seguinte, os obstáculos existirão do mesmo jeito, muitas vezes até maiores do que os deste momento. E teremos que abrir mão de algumas coisas que nos fazem tão feliz na nossa rotina atual.
Por isso que, depois de sentir falta de algo que eu jamais pensei que sentiria, não anseio mais (tanto) pelo que está por vir. Lógico que meus sonhos estão lá no futuro, mas enquanto estou trabalhando para que eles se realizem, tento sempre que possível curtir a vista do que me cerca no presente. Porque eu sei que, daqui um tempo, as angústias não estarão mais aqui, e nem algumas das alegrias que eu tanto prezo no meu cotidiano. Quero ter a certeza de que, toda vez que eu chegar no meu próximo destino, a viagem até ali deixe saudade, mas também a certeza de que foi muito bem aproveitada.
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