Conversando um dia com uma amiga querida, ela apontou a felicidade que sentia por me ver tão bem e satisfeita, ainda que solteira. Na época, fazia mais de um ano que eu havia terminado meu último relacionamento e passava por uma das minhas fases mais tranquilas.

Claro que achei interessante o “ainda que”, as duas palavrinhas que trazem à tona a crença ainda tão presente de que ser feliz significa estar acompanhada de alguém. Na hora, porém, não contrariei: sorri e disse que sim, a solteirice me cabia bem. Depois de anos fazendo casa em outros corações, decidi finalmente aproveitar minha própria moradia.

Mas, verdade seja dita, mesmo naquele momento, eu sentia falta de algo. Não era de alguém, isso era certo. Nem de companhia, pois a minha própria se tornou suficiente. E muito menos dos dramas que envolvem uma relação amorosa.

Até que me peguei olhando para qualquer andarilho que passasse por mim e imaginando se aquele poderia ser meu próximo amor. E ouvindo músicas desejando que elas me lembrassem de uma pessoa em especial. E procurando escolher filmes românticos que me dessem o gostinho de uma história que ainda não era a minha.

A saudade, entendi depois de boas reflexões (e algumas horas no divã), é de me apaixonar. Das tais borboletas no estômago, dos pensamentos floridos, dos sentimentos ensolarados… Aquela (quase) perfeita paisagem de primavera contrastando com o verão ameno que eu andava vivendo. 

Se eu for seguir com a metáfora, diria que, sem dúvida, é muito melhor do que experienciar o inverno dos relacionamentos que nos congelam – dos quais, infelizmente, tenho um conhecimento vasto. 

Ainda assim… Entendo os que amam o amor e as vivências que ele nos proporciona. Entendo os “ainda que”, os olhares de compaixão, os conselhos de que “a pessoa certa iria aparecer”. Entendo (ainda que não concorde) a nossa cultura romântica de medir uma parte do nosso sucesso pelo relacionamento em que estamos. A paixão, de fato, traz um colorido só dela para a nossa vida.

A boa notícia é que toda estação tem seu tempo. Por isso, eu confio que a minha primavera logo aparecerá. Enquanto isso, sigo aproveitando cada minuto do verão que eu conquistei.